Inspiração

Inspiração

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Todos os dias acontecem catástrofes, tsunamis, vendavais que destroem não apenas telhados, paredes e muros. Destroem esperanças e vidas. Estes eventos não se tornam preocupação mundial. Nestes tempos, não é raro o desespero decorrente de dificuldades nos negócios devastados pela pandemia. Dia desses, uma empresária, insanamente, disse que preferia contrair Covid-19 do que passar tantas dificuldades para manter o seu negócio. A afirmação é um equívoco sem tamanho. Havendo vida, há força para lutar.

Todos temos catástrofes pessoais. Prefiro vê-las como inspirações não previstas. Resolvi então, compartilhar a minha para inspirar e provocar reflexão. Autocomiseração, piedade nunca são bons sentimentos, nem para com os outros, tampouco para consigo.

De uma manhã de sábado para a tarde do mesmo dia, um raio certeiro riscou o céu que se tornara noite. Não é apenas uma metáfora. Aos 35 anos, em um jogo de futebol promovido pela prefeitura de Santa Maria, meu marido foi atingido. O raio não atingiu apenas uma vida, mas outras tantas. Atingiu sonhos e planos. Atingiu a empresa e colaboradores. Atingiu nossa vida pessoal, da família. A situação confortável, casa em construção, negócios começando a decolar foram praticamente arrasados. A vida até então era mais bonita que as antigas propagandas de margarina. Quatro filhos entre 4 e 11 anos. Três meninos e uma menina. Incrédula, abalada e, aparentemente, destroçada com tantos sonhos inacabados, decidi não fazer perguntas. Por que eu? Por que nós? Por quê?

Decidi apenas não aceitar mais perdas. Voltei no dia seguinte para minha casa. Dali para frente foi uma luta diária para finalizar projetos e inspirar felicidade. Gratidão eterna à rede de amor, amizade e solidariedade que se formou em torno de nós. Foram tempos de reconstrução, ressignificação. Descobri uma mulher sob duras penas, sem as quais talvez nunca teria sido descortinada.

A vida real batia à porta todos os meses. As despesas se tornaram insustentáveis. Nesta hora falou mais alto a filha do imigrante espanhol que vendendo de balaio garantiu o sustento da mãe e dos irmãos, até que o pai fosse libertado em Cuba. O exemplo me deu valentia. Fiz massa caseira, torta de claras e fio de ovos paralelamente às atividades universitárias.

Estabeleci metas de venda para pagar a escola e o inglês das crianças. Muitas vezes e, por vários anos, à tardinha e aos finais de semana, coloquei os pacotes de massas no carro e, com a filha menor, saí a oferecer em mercados e padarias. Meus colegas de universidade eram clientes fiéis.

Foram tempos duros, difíceis. Sempre há aprendizado e crescimento quando há propósito de enxergar e acreditar. A força das mulheres é a força das feras. Força de suas verdades. Minha trajetória não é única e nem a mais doída. Todos somos capazes enquanto houver vida, disposição de lutar e caminhos a construir. Que seja inspiração!

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